UM E-Theses Collection (澳門大學電子學位論文庫)
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Macau oitocentista e o impacto da fundacao de Hong Kong
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INTRODUÇÃO Em 1991, Macau representava apenas cerca de 1,8% da superfície de Hong Kong, cerca de 68 da sua população, aproximadamente 58 do seu produto interno bruto (P. I . B.) e das suas trocas comerciais com o exterior . No final do século passado Hong Kong, que nascera em 1841, tinha claramente ultrapassado Macau e desfrutava de uma hegemonia que transparecia nomeadamente na atracção que aquela cidade exercia levando à fixação sobre a comunidade portuguesa , nessa colónia britânica de mais de um quarto dos portugueses naturais do sueste asiático . A fundação de Hong Kong não impediu que Macau se desenvolvesse muito mais no século XIX que nos dois séculos anteriores. Com efeito a população de Macau multiplicou—se por seis ou sete vezes (10/12 mil almas para cerca de 78 mil) no século XIX e o território aceite pelos chineses como estanto sob jurisdição portuguesa também deve ter—se multiplicado umas oito vezes ( 1,5 km2 para 12, OKm2) . Macau teve um crescimento notável a partir da fundação de Hong Kong é certamente entre territórios e países , em termos relativos , o que mais rn2 de construção tem por Krn2, mais terrenos conquistou ao mar, que maior rendimento possui por superfície, que mais gente alimenta face aos seus quase inexistentes recursos naturais. Acresce ainda uma história em que revela ter prestado serviços de inestimável valor quer à China, quer a Hong Kong , quer a Timor. Afigura-se que Hong Kong não impediu o crescimento de Macau, mas obrigou a fortes alterações com enormes custos sociais para no seu sis tema , vários sectores da comunidade portuguesa e que nunca aceitaram bem as mudanças ocorridas. A secundarização de Macau deveu—se mais ao Tratado dos Portos e à consequente abertura da China ao exterior que propriamente a Hong Kong, não esquecendo que ambas constitui ram parte da mesma estratégia britânica . As diferenças de dimensão e de crescimento supramencionadas susci tam frequentemente complexos de portuguesa comunidade inferioridade na interrogações do tipo: Porque se subalternizou Macau? Até que ponto Hong Kong impediu o desenvolvimento de Macau? Que estratégias poderiam ter sido tomadas por Portugal para impedir essa subalternização e para relançar o território? Neste trabalho facultam—se apenas algumas pistas e fundamentalmente procurou—se compreender o que se passou e os objectivos dos principais protagonistas dessa época. Por escassez de tempo , a documentação relativa ao Macau oi tocentista envolve mais de cem mil páginas . em especial a segunda Inves ti gamos , metade do século XIX com maior incidência na evolução do terri tório, da população portuguesa, do comércio externo, moeda e das finanças públicas . Não elaboramos o dossier >, que se me afigura da maior importância quer para a história de Hong Kong, quer da Cristandade na China quer para a história de Macau e para a sinologia contemporânea . à his tóri a polí ti ca No que concerne diplomáti ca não desenvolvemos a ques tão da das complexas negociações e Tratados soberania , Igualmente a pequena polí tica das Luso—Chineses . autonomias , relações Terreiro do Paço —Macau , divisão de poderes , lutas Imprensa nascente e ideológicas . Para uma próxima oportunidade deixamos uma investigação mais profunda da emergência de novas actividades económicas nomeadamente o jogo, tráfego de cules e a proliferação das lorchas . O Macau oitocentista não se esgota: O comércio do ópio , a diáspora macaense , a ascenção dos chineses são mais alguns temas que de per si justificam uma investigação . Julgamos que este trabalho será útil a quem investigar os supraci tados temas, pelo que passamos a apresentar a temática desta dissertação . Macau, após o seu período de ouro, que vai desde a fundação do estabelecimento até viagens ao Japão , atravessou quase dois dificuldades em que a sua sobrevivência uma muito maior dependência dos mandarins a intercessão dos Jesuítas em Pequim. ao fim das séculos de passou por de Cantão e A expulsão dos Jesuí tas representou uma grande perda para Macau que se viu privada, para além do seu sistema natural de informações, duma educação de juventude que orientada por sinólogos se movia no sueste asiático e extremo oriente como >. Em 1760 quando Macau é obrigada a dar apoio a todos os que demandavam o porto de Cantão, Macau não podia contar com os Jesuítas para travar esta deci são . A abertura de Macau aos comerciantes europeus contribuiu para o crescimento do comércio externo da mãos China que gradualmente foi passando das portuguesas para as outras potências ocidentais , cujos mercados internos superavam o português , em especial após a independência do Brasil. Estes factos ocorreram num período de grande desenvolvimento comercial, que no caso do comércio com a China foi marcado por dois produtos, o chá e o ópio. A partir do século XVIII, o chá que se tornou muito apetecido na Europa e o seu consumo não parava de crescer, contribuindo para agravar, o tradicional desiquilíbrio da balança comercial das potências ocidentais face à China. A resposta ocidental a esta drenagem da foi encontrada pela Companhia Inglesa das prata , índias Orientais que se decidiu pelo fomento da generalização do consumo de ópio na China . Este adquiriam na índia , produto , que os bri tâni cos permitiu não só tornar a China defici tária como contribuir fortemente para as recei tas fiscais da índia Inglesa. Por um lado neste Terri tório estava estacionado um enorme contingente mili tar britânico , com os correlativos custos e por outro lado a revolução industrial encontrou na índia um mercado imprescindível à expansão dos textéi s ingleses . Indirectamente o ópio tornou—se um dos suportes da expansão industrial bri tânica que necessita de mercados crescentes. O mercado chinês passou a estar sob mira bri tânica, primeiro pela força do ópio e depois pelo potencial mercado para os texteis britânicos (em especial, a partir da 2 guerra do ópio). Sendo Macau a base operacional do > teria a partir da 2 a guerra do especial , teria de susciar os apetites bri tânicos. As dificuldades de relacionamento com as autoridades sentidas nas duas tentativas de ocupação , chinesas , levam os ingleses a adiarem este proj ecto; durante cerca de 30 anos mantiveram um > não era uma mera questão de existência de bases , impli cava a modificação das regras de jogo no tratamento dos comerciantes pelas autoridades chinesas . Concomi tantemente desenrolava—se revolução industrial, em que os ingleses levavam vantagem e que se traduziu também por uma revolução dos arsenais militares e garantiu à Grã-Bretanha reforçar a sua supremacia naval. As inovações tecnológico—mili tares revolucionaram a marinha e o exérci to permi tiu colmatar a inferioridade numérica dos seus contingentes militares . A ideologia conservadora chinesa levou a que este país não tenha compreendido a importância destes factos e tenha persistido em não introduzir no seu exército novos equipamentos, convictos que estavam da ancestral superioridade chinesa. Ingleses esperaram o pretexto e a oportunidade surgiu com a apreensão do ópio , em Cantão . Derrotados, os Chineses aceitaram a cedência de Hong Kong ocupada um ano antes. Mas a facilidade com que os chineses foram derrotados desfizera um mito e a dimensão do mercado estimulava a apetência das potências ocidentais . O processo de revolução industrial que esses países viviam implicava mercados crescentes. Há quase um contínuo e crescente intervencionismo ocidental na China . Na 2 a metade do século inúmeros portos e cidades foram abertos ao exterior do que resultaram Significativas colonias de ocidentais na costa Chinesa Não possuindo Portugal força militar para desafiar a China , encontrando-se o processo de industrialização menos avançado e não constituindo esta zona do globo sua prioridade Portugal estava vocacionado para África onde vislumbrava novos Brasis , a estratégia portuguesa passou a ser sobreviver com o menor risco possível , logo com à potência cedências investimentos reduzidos nosso natural continental e à potência marítima , Estado Director. facto resultou Deste que pressionou diplomaticamente a China apenas no sentido de obter Para Macau o indispensável mínimo para sua sobrevivência. Macau continuou portanto muito marcada pelo seu código genético , pré—industrial e pre – colonialista. A presença portuguesa Era por consentimento e não por imposição. As três missões porque Macau tinha sido criada estavam esgotadas, em meados do século: Não se esperava mais evangelizar a China por via do estabelecimento português , a diocese de Macau es tava reduzidíssima; Macau não era mais o velho entreposto, entre a China e o Ocidente ou o Japão; o sino—português não comérci o tinha prati camente expressão para os dois países e Portugal não estava interessado em investir na China. Permaneci amos na China, fundamentalmente porque havia Macaenses . Criada em pleno capi tal ismo industrial, numa época de liberali smo económico e de colonialismo , Hong Kong tinha um código genético diferente , es tavam—lhe subj acentes interesses muito grandes e uma dimensão terri torial que lhe permi tirá uma grande expansão. Beneficiou simul taneamente de ser um porto de águas profundas , com uma excelente locali zação para defesa dos interesses da Grã—Bretanha (1 a potência marí tima, comercial, colonial e militar com grandes interesses no Pací fico nomeadamente na Austrália, na Nova Zelândia e no comércio com o Japão e a China) . Consti tuia um elo importante no sistema naval bri tânico quer no apoio à marinha mercante quer à marinha de guerra . A natureza das relações sino—bri tânicas caracterizou—se, ao longo do século dezanove , por uma crescente intromissão da Inglaterra na política chinesa e de uma subordinação da política externa chinesa à Pax Britannia o que implicou uma litigiosa abertura da economia chinesa ocidentais . às potências Se Macau era fundamentalmente uma cedência da China Imperial a uma potência menor, constituindo um elo das diversas redes comerciais que a uniam ao exterior e encarada como um feudo concedido a bárbaros que a tinham servido, Hong Kong foi uma imposição bri tânica, o culminar de um braço de ferro que terminou na dupla humilhação. Com a cedência de solo pátrio e a constatação de que a China apesar da sua enorme extensão e população deixara de ser a 1 a potência mundial, não estava mais segura no seu próprio Território. Os novos bárbaros atacavam agora pelo Sul , de nada servindo a grande muralha da China . O aparecimento de Hong Kong e o Tratado dos introduziu uma forte competi ti vi dade, pondo Portos , em causa a viabilidade de Macau e exigiu o repensar da presença portuguesa na China. A luz das novas realidades , era impossível continuar o estabelecimento de Macau, não alterando o sta tus quo protagonizado pelos membros do Senado . Assim, afigura—se que Hong Kong consti tuiu para Macau um tratamento de sangria . Acordou—a de uma certa estimulou—lhe o crescimento, protegeu— sonolência , —lhe a retaguarda, permi tiu—lhe o acesso a um estatuto próximo da neutralidade conveniente às duas forneceu—lhe transferências de grandes potências , tecnologias em conta, deu trabalho a muita gente , amplo mercado para serviços, nomeadamente o jogo e permi tiu—lhe acabar por se tornar a mais velha e última colónia do oriente. A fundação de Hong necessidade de introduzir as acelerou Kong a reformas coloniais delineadas pelas reformas da monarquia cons titucional . A década de quarenta do século marcada por profundas passado foi al terações , económi cas e sociais, que vão desde a declaração de porto franco que quebrou as recei tas do Leal Senado , à extensão da administração às Portas do Cerco e às ilhas da Taipa e Coloane, à extinção das alfândegas chinesas , à colocação dos residentes chineses nesses limi tes sob jurisdição portuguesa e à recusa da in tervenção do s mandarins vi a interna do na Terri tório . Todavia estas reformas tornaram—se insufi cientes pois por volta de 1850 ocorreram no «environment>> de Macau três factos da maior importância : o rápido crescimento de Hong Kong , as grandes revol tas populares chinesas (Taipings) e a 2 a guerra do ópio que consagrou a abertura da China ao exterior . E s ta evolução podia por conseguinte significar novas oportunidades para a comunidade portuguesa de Macau s imul taneamen te incapacidade de concorrência por parte de Macau . uma Sendo na altura essa comunidade ainda a detentora do económi co era na tura I que com enfraquecimento se reduzisse o emprego ; o seu havia aparentemente razão para o crescimento tão acentuado que se verificou na população chinesa . Estes brutais afluxos a Macau são contudo característicos dos períodos de crise no Celeste. A principal consequência foi o alargamento explosivo do Bazar , mai s tarde designado cidade chinesa, sendo que gradualmente a cidade perdeu as características que a individualizaram durante cerca de tres seculos. Macau deixara de ser um pequeno núcleo urbano com características europeias e medi terrânicas , Gibral tar portuguesa. que se organizara inspirada nos sul tanatos da Ásia do Sueste. Macau dava lugar a uma cidade chinesa, de dimensão média, sob administração em que demografi camente os valores da portuguesa , comunidade portuguesa passaram a ser insignificantes . O século XIX, também foi marcado por uma ofensiva diplomática portuguesa em Pequim, no sentido reconhecimento da soberania portuguesa do no Terri tório e por uma tentativa de alargamento das fronteiras de Macau. Foi um longo processo que se prendeu com um repensar por Portugal e pela China, do papel que Macau manteria na história . São de assinalar três grandes marcos: O Tratado de 1862 não ratificado, o Tratado de 1887 e por fim a Declaração Conjunta de 1987, em que as duas partes acordam a reversão da Administração do Terri tório , para a República Popular da China , em 20 de Dezembro de 1999. Este último documento é o único em que as autoridades chinesas, de certo modo igualam Macau a Hong Kong. Pelo meio fica a controvérsia , sobre a delimi tação das fronteiras, que ficou em aberto em 1887 e a questão da soberania sobre o solo que as autoridades chinesas afirmam nunca ter sido alienada . Mais tarde surgiu a inclusão ou não , daqueles acordos , nos tratados di tos desiguais correspondentes aos tratados impostos pelas potências ocidentais e pelo Japão no tempo da Monarquia Chinesa . Procurou—se ganhar nas secretarias o que os ingleses impuseram pela força . Mas a dipl omacia chinesa foi muito resistente, não nos reconhecia nem a força do direito , nem o direito da força. Era conhecido que Portugal não tinha uma esquadra que pudesse reproduzir as façanhas dos bri tânicos . Igualmente terri tório expl i ci tado consideravam que Macau fora s empre chinês , procuraram que isso fosse acordos nos reconhecendo apenas direito de uma administração. As autoridades chinesas afirmavam que nunca tinham ido além do reconhecimento do direito de residência e digamos dos direitos de extraterri torialidade confiados à parte murada da península de Macau . Consideravam que as outras prerrogativas não válidas . Não ti nham sido decretadas pelo Imperador e mui tas derivvaam de omissões de Cantão ou de acções de suborno junto dessas autoridades regionais . Foi essa a razão da não ratificação do tratado luso—chinês 1862 do resultou que uma subalternização do estatuto do nomeadamente face a Hong Kong. Claramente estava interessada que Macau reproduzisse Hong Kong, nem estava interessada que os deixassem o terri tório. território a China não o modelo de portugueses Macau poderia continuar a ser uma ponte para o ocidente controlada pelos a portagem mas com chineses , no que diferia abi ssalmente de Hong Kong que para além de um estatuto mais elevado beneficiava de uma muito maior massa crí tica e a protecção da maior potência do Mundo. Somente 25 anos depois, quando por toda a China proliferavam possessões estrangeiras em resultado dos chamados tratados desiguais foi possível obter o reconhecimento da soberania portuguesa sobre Macau e as suas dependências . Neste período a intervenção directa de Lisboa acentuou—se e se o estatuto de Macau perante as autoridades chinesas foi clarificado pelos acordos o século findou sem que estivesse luso—chineses , resolvida a questão da delimitação das fronteiras . ilhas Não tendo permi tido a anexação das circunvizinhas, dadas as condicionantes geográficas— não podia ser possível um enclave sem terri tório— competir com a Hongkong que tem um salto qualitativo com o arrendamento dos Novos Terri tórios em 1898 . As sim, em Macau não havia espaço para absorver os inúmeros deserdados das convulsões do Império , nem agri cul tura , significativas . nem espaço para indústrias A chegada do 10 navio de aço a vapor, a abertura do canal Suez e o aparecimento do telégrafo facili taram a centralização do poder , aumen tando a ligação e a subordinação dos governadores ao Terreiro do Paço passando a política externa portuguesa a sintonizar—se mais pelos acordos das chancelarias europeias que pelos interesses dos portugueses do Oriente . Se os ingleses nos tinham aliviado da missão de intermediários privilegiados do comércio sino— europeu, pela concordata de 1857, o Território fora também quase dispensado da missão evangelizadora fora da área diocesana. A missão de Macau cumprira—se no sentido de ter sido a porta de penetração do cristianismo na Idade Moderna, do intercâmbio cul tura 1 e comercial entre o Ocidente e a China. Consumara—se também a abertura do Japão ao Ocidente por imposição americana . Macau deixou de ser > res tava—lhe competir com as novas e punjantes praças que as potências ocidentais impunham por toda a costa chinesa. A China estava aberta, o antigo regime de rastos, Macau competia pelas razões supramencionadas em desigualdade. Os macaenses iniciavam a diáspora, a emergia o economia especializava—se nos serviços , tráfego de cules, proliferavam as lorchas e o jogo tornou—se numa das grandes fontes de financiamento do erário público . O Terri tório não tinha nem o sistema financeiro nem mercados com a dimensão dos de Hong Kong , nem um porto para os grandes navios do bri tânicos , final do século. Em contrapartida não faltava a esperança aos portugueses de Macau. Sonhavam com o porto de águas profundas, com o eventual arrendamento de Heung—Xan e com o caminho de ferro para Cantão. As finanças públicas atraves s avam um funcionários públicos que para Macau . não fal tavam boom qui sessem vir trabalhar Macau encontrou fraquezas persistia em competir para sobreviver , transformou as seus nichos , suas os cresceu muito económica e em forças , demograficamente. Contra mui tas expectativas a mais peri cli tante sobreviveu a província ul tramarina portuguesa todas . Para lá do mérito português sobreviveu—lhes porque os chineses perceberam a diferença. Macau foi sempre um grande negócio para a China e um pequeno negócio para Portugal; de todas as portas foi a única de que sempre detiveram a chave . Se a história não nos revelar surpresas será portanto, a última a fechar—se.
- Issue date
-
1994.
- Author
-
Pinto, Carlos Lipari Garcia
- Faculty
-
Faculty of Social Sciences and Humanities
- Department
-
Department of Portuguese
- Degree
-
M.A.
- Subject
-
Macau -- History -- 19th century
Hong Kong -- Histoyr -- 19th century
- Supervisor
-
Matos, Artur Teodoro de
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- Location
- 1/F Zone C
- Library URL
- 991000156209706306